Que a Indústria 4.0 seja uma oportunidade para todos

Na passada segunda-feira, dia 30 de janeiro, foi apresentada, em Leiria, a Estratégia Nacional para a Indústria 4.0 – Economia Digital. Em síntese, foi anunciado um conjunto de 60 medidas que pretende envolver 50 mil empresas e prevê mais de dois mil milhões de euros de investimento nos próximos anos.

Estas medidas vão desde o financiamento até um programa de competências digitais, passando por cursos técnicos 4.0, Learning Factories e missões internacionais, entre outras. No fundo, são ações que visam a capacitação de recursos humanos, a cooperação tecnológica e a adaptação legal e normativa e que visam a aceleração dos processos de digitalização na indústria.

Genericamente, a estratégia apresentada é ambiciosa e responde aos desafios atuais do tecido empresarial. Contudo, considero que é necessário ter em conta a realidade do tecido industrial nacional e adaptar as medidas agora anunciadas aos diferentes tipos de empresas que o caracterizam, pois, caso contrário, corre-se o risco de estas iniciativas beneficiarem sempre os mesmos.

Neste sentido, e fruto do meu contacto com as empresas famalicenses, exponho alguns aspetos a ter em conta na implementação desta estratégia, de acordo com a seguinte nomenclatura de empresas:

Micro e pequenas empresas. Como se sabe, são a grande maioria do nosso tecido empresarial e, de uma forma geral, não conhecem, nem sabem o que é isto da Indústria 4.0 e da nova revolução industrial em curso. Até podem estar a implementar algumas medidas neste âmbito, mas não têm essa noção e não encaram tais iniciativas numa perspetiva estratégica e global. Nestes casos, julgo que é fundamental começar por clarificar conceitos, mostrar a imperiosa necessidade de terem de seguir este caminho, evidenciar as oportunidades que daí podem advir. É pois importante, em primeiro lugar, sensibilizar, capacitar e formar os empresários destas micro e pequenas empresas e, em segundo lugar, criar condições para que possam, também elas, beneficiar dos sistemas de incentivos previstos. Como é sabido, normalmente, são estas empresas que mais precisam e também, normalmente, as que não têm condições elegíveis para as respetivas candidaturas. Caso não se tenha em consideração estas e outras situações, poderão, mais uma vez, passar ao lado das oportunidades.

Médias empresas. Muitas destas empresas já estão a adaptar o seu processo produtivo à digitalização. Algumas já conseguem saber nos seus telemóveis e nos seus tablets, em tempo real, quantas encomendas estão a chegar, quanto estão a produzir e quais são os custos envolvidos, podendo, em qualquer parte do mundo, fazer com que determinada produção avance clicando apenas num botão de um dispositivo móvel. Tem sido notável esta evolução, maioritariamente sem qualquer tipo de ajuda, apenas com a aproximação às infraestruturas tecnológicas. Não falam em Indústria 4.0, falam sim nas necessidades do seu dia-a-dia e dos desafios que aparecem, pelo que estão a acompanhar a dita revolução, mesmo sem terem essa perceção. Nestes casos, julgo importante, por um lado, a prioridade em capacitar os trabalhadores em competências digitais e, por outro, fazer o que está a ser feito na produção em termos digitais, também nos processos relacionados com os clientes. A este respeito, nas médias empresas, ainda há muito trabalho a fazer nos respetivos modelos de negócio, e a Indústria 4.0 é, sem dúvida, uma excelente oportunidade.

Startups. Nestes casos, não é necessária formação em competências digitais, não é necessário rever modelos de negócio, não é necessário incutir inovação e diferenciação, não é necessária a ligação a universidades e infraestruturas tecnológicas, mas é necessário rever o financiamento, são necessárias competências de gestão e é necessário aproximar estas empresas à indústria e às médias e grandes empresas. Ainda não é fácil encontrar soluções de financiamento que respondam às suas caraterísticas nem encontrar “pontes” com os seus potenciais clientes/fornecedores, seja numa perspetiva nacional, mas fundamentalmente internacional. A aproximação a investidores e a circuitos internacionais de negócios torna-se, portanto, decisiva para que os respetivos projetos possam alcançar o sucesso pretendido.

Grandes empresas. Na sua maioria estão por dentro do conceito, têm equipas focadas em projetos de Investigação & Desenvolvimento, a maioria dos quais, em parceria com as Universidades e os Centros Tecnológicos; têm acesso ao financiamento e recorrem a consultores especializados em economia digital. Por tudo isto, encaram esta revolução como mais uma etapa no seu processo de desenvolvimento. Para estas empresas, julgo que a principal medida deve ser a promoção de formação em competências digitais junto dos seus colaboradores da parte produtiva, pois o risco de serem eliminados postos de trabalho por “robots” é elevado.

Em suma, o programa agora anunciado pode ser um excelente instrumento para as empresas, seus empresários e trabalhadores, mas, conforme explanei, é importante ter em conta que nem todas as empresas são iguais e que não estão todas no mesmo ponto de partida, pelo que é fundamental ajustar as medidas às realidades de cada uma e só depois avançar para outros patamares de uma forma gradual e sustentável.


Augusto Lima
Coordenador do Famalicão e vice-presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Famalicão

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