Onde estão as políticas do lado da oferta?

Não há dúvidas que estamos a viver uma conjuntura económica favorável. A descida gradual do desemprego, para níveis designados como desemprego estrutural, e a subida generalizada das exportações e do investimento empresarial privado são alguns indicadores que não deixam margem para incertezas.

Aliás, no caso das exportações, as indústrias ditas tradicionais – têxtil, calçado, metalomecânica, agroalimentar – estão a bater todos os recordes e, no caso do investimento, estamos também a assistir a constantes alargamentos da capacidade produtiva e de novas linhas de produção, pelo que podemos afirmar, sem rodeios, que a economia real está de boa saúde e recomenda-se.

A este respeito, Vila Nova de Famalicão é um excelente exemplo e, atendendo às suas caraterísticas, com um tecido empresarial assente nas indústrias transformadoras, funciona também como um barómetro para o país: o notável volume de exportações (que de 2012 a 2016 subiu cerca de 20%) catapultou o município famalicense para a liderança nacional em matéria de saldo líquido da balança comercial. Acresce a isto que a taxa de desemprego no concelho ronda, atualmente, os 6,5%, sendo significativamente inferior à média nacional.
Face a estes e a outros indicadores mais específicos, podemos também afirmar, sem rodeios, que Vila Nova de Famalicão é uma referência nacional pela sua capacidade empresarial e industrial.

Chegados aqui, praticamente ao fim de um ciclo, julgo que estamos na hora certa para conceber e implementar uma estratégia que ajude a transformar o bom momento conjuntural em estrutural e que, simultaneamente, ajude as empresas a melhor se prepararem para os novos desafios que aí se avizinham.

Ora, mas será que é isto que o país está a fazer? Ou continuamos a trabalhar apenas no curto prazo, sem medidas de fundo que possam realmente ter impacto na economia do lado da oferta?

Se tivermos em conta o Orçamento de Estado para 2018, a perspetiva, neste capítulo, não é muito animadora, pois, para além de não ressaltarem medidas estruturantes que promovam o investimento e ajudem a alavancar a capacidade instalada nas empresas, em sentido inverso, aumentou-se o IRC por via da taxa da derrama estadual, anulando assim a necessidade de transmitir um sinal positivo às empresas e aos novos investidores.

Por outras palavras, podemos questionar: onde estão as políticas do lado da oferta que valorizem as empresas portuguesas? Onde estão as medidas estruturantes que potenciem os fatores favoráveis da atualidade, tais como o preço do petróleo, as taxas de juro, o turismo e os mercados europeus? E onde estão, na prática, as ações que visem preparar as pequenas e médias empresas para novos desafios, ameaças e oportunidades?

Não havendo uma resposta clara e objetiva a estas questões, creio que facilmente podemos concluir que o país não está a planear devidamente um novo ciclo que não tardará a chegar, pelo que caberá aos organismos regionais, locais e setoriais, dentro do seu raio de ação e das suas competências, desencadear uma série de medidas, em áreas fundamentais, que contribuam inequivocamente para preparar o futuro. Em Famalicão, estou certo, essas medidas serão implementadas e os resultados continuarão a fazer deste concelho uma das maiores potências empresariais e industriais de Portugal.

Augusto Lima
Vice-Presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Famalicão

(artigo publicado na edição de 18 de janeiro de 2018 do jornal Correio do Minho)

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