O Dia da Mulher - Continua o tempo da diferença?

O dia da mulher tem sido uma prática social questionável. A celebração desta data ainda se impõe?

Recordemos que o dia da mulher surge no final do século XIX e início do século XX, num contexto social conturbado de lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho e de reivindicações políticas, naquilo que era e ainda é o mais elementar dos direitos, o sufrágio. A sociedade mundial era então o reflexo de uma desigualdade efetiva de género.

Com o decorrer dos tempos poder-se-á questionar se esta celebração não será apenas um pretexto ou uma oportunidade para desenvolver cooperativismos no feminino, pressão social ou simplesmente negócios próprios de uma sociedade de consumo.

Na verdade este dia continuará historicamente ligado às lutas das trabalhadoras, das mulheres, pelo que não deverá ser esvaziado do seu significado. Mais do que uma forma de festejo que nos liberte do nosso quotidiano, pretende-se que este dia seja um momento único de reflexão e de debate.

Para que cada mulher tenha um papel ativo na discussão das assimetrias sociais, políticas e profissionais; para que possa refletir sobre o papel e a condição da mulher na sociedade moderna, nas políticas que, se por um lado visam proteger, mas que por vezes são criadoras de maiores desigualdades; para que possa questionar o acesso muitas vezes vedado a lugares onde a sua competência não é privilegiada porque a sociedade teme o seu insucesso; e também para que a mulher possa debater sobre as tarefas (domésticas ou profissionais) que sistematicamente são aprendidas ou no feminino, ou no masculino, e um número infindável de outros temas discutidos sem que a mulher tenha uma voz ativa.

Mas desta reflexão ressalta uma outra questão: Porque será este um dia quase privilegiado para que muitas mulheres se reúnam para festejar, para um chá ou simplesmente para um jantar?

Não será este também um pretexto ou a única forma da mulher se confrontar ou confrontar os outros, sem qualquer censura, ausentando-se do seu quotidiano?

Ainda assim é importante assinalar esta data, ainda que pareça desajustada a sua celebração. Queremos, no fundo, que desperte em cada uma de nós mulheres, a vontade cívica e social de estar onde achamos importante, mesmo que optemos pela intimidade, pela solidão, pela família ou pela sociedade. Acredito que para mim e para as outras mulheres este é um dia repleto de maior significado e um momento especial para refletir sobre o que é verdadeiramente ser mulher.


Maria Manuela Martins
Conselheira Municipal para a Igualdade

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