“NÃO HAVIA NECESSIDADE”

FAMILIA. António Costa acabou no novo governo com os familiares à mesa do Conselho de Ministros. Como se alcança, afinal havia um problema que o primeiro-ministro durante muito tempo dizia não descortinar, afinal também não era preciso introduzir alterações à legislação. Como sempre afirmei o problema residia na falta de ética, na ausência de autorregulação. Falta ver, agora, se ao nível da composição dos gabinetes dos diferentes membros do governo, o Estado não voltará a ser confundido com a família, com os amigos e com o Partido Socialista.

ENFERMEIROS. O Governo garantiu que, até ao final da legislatura, todos os portugueses teriam médico de família. António Costa chegou mesmo a antecipar esse objetivo para o final de 2017. Pois bem, a legislatura chegou ao fim com 750 mil portugueses sem médico de família, um número inclusivamente superior aos 690 mil portugueses registados nessa circunstância no final de 2018. Não sei se a meta era demasiado ambiciosa, mas sei que o Governo se fartou de a garantir e não a conseguiu alcançar. Sei também que o Governo não apresentou nenhuma justificação para o seu próprio falhanço e sei que nos promete agora um enfermeiro de família para todos os portugueses depois de falhar a meta de atribuir médico de família a todos os portugueses. Parece brincadeira.

EMIGRANTES. Os nossos concidadãos foram maltratados e desconsiderados nestas e por causa destas eleições legislativas. Maltratados por um processo eleitoral que se revelou, por manifesta incúria e incompetência da administração central, humilhante para milhares de portugueses que não puderam votar ou votaram de forma nula. Desconsiderados pelo Presidente da República ao impor que a composição do Governo lhe fosse apresentada sem que os seus votos tivessem sido contados. Nada justifica que não pudesse esperar 24 horas. O sentimento de muitos emigrantes é de que o seu voto não contou para nada. Sabemos que isso não é verdade, mas é um sentimento compreensível. Como diria “Diácono Remédios”, a personagem popularizada por Herman José, “Não havia necessidade”.

Artigo publicado na rubrica "Ponto de Ordem", na edição de 24 de outubro de 2019 do jornal Cidade Hoje.
Por Jorge Paulo Oliveira

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