O algodão não engana

Um dos indicadores que assegura uma boa gestão pública é a transparência. Neste ponto, os conjuntos de dados existentes devem ser partilhados e acessíveis a toda a população, contanto que não comprometam a privacidade e a segurança dos cidadãos.

Durão Barroso vai ser presidente não-executivo da Goldman Sachs. Não defendo nem critico. Há aqui duas possibilidades: ou o português foi um bom Comissário Europeu, sendo uma oportunidade de negócio para qualquer empresa poder contar com um quadro desta envergadura; ou no decorrer das suas funções beneficiou de alguma forma o privado, assegurando o seu futuro como contrapartida. Se houvesse transparência total, não haveriam duas possibilidades, seria preto no branco.

Levantaram-se algumas vozes dissonantes aquando desta notícia. Semelhante dissonância não se verificou quando Vítor Constâncio (ex-Banco de Portugal) foi nomeado para o Banco Central Europeu. Já Mário Centeno anuncia um desvio na CGD de 3 mil milhões para logo a seguir ser desmentido pelo Expresso.

No capítulo das sanções, o Parlamento está aos gritos. Em vez de se discutir a melhor forma de resolver o problema, debate-se o patriotismo de cada um e a culpabilidade da coisa. São estas situações que descredibilizam a política, afastando-a do povo. Como é possível haver tão diferentes argumentos para algo que é objetivo e factual? Nem a melhor retórica do mundo pode mudar a realidade.

Para a política ser limpa tem que ser transparente. O nível de escrutínio deve ser o mais exigente possível. Tal como o algodão naquele anúncio antigo da Sonasol.

Pedro Fonseca
Presidente da JSD de Vila Nova de Famalicão

NB - Texto publicado na edição de 14de julho de 2016 do Jornal Cidade Hoje

Partilhar ››

Pedro Fonseca

Pedro Fonseca